É uma antologia independente de ficção científica feminista. O que eu mais gostei foi nenhum dos contos impor 'dogma' ao leitor, como por exemplo "você tem que apoiar a legalização do aborto por isso e por aquilo", etc. Temos um livro ótimo, recheado de críticas à sociedade e à política dos dias atuais.
Só tenho uma observação: a falta de uma revisão ortográfica e textual em muitos dos contos, que apresentam frases soltas, e erros de português.
Falarei sobre meus contos favoritos, são eles:
Um jogo difícil,
por Leandro Leite
O conto gira em torno de Maria, uma estivadora* e chefe do maior
armazém da cidade. Sofre muito preconceito e pressão por ser uma
mulher em um cargo de grande importância, vítima de assédios
sexuais e até mesmo ameaças.
Maria se esconde sob uma expressão séria e comportamentos
“fora do padrão feminino” da sociedade.
Tem como pano de fundo uma sociedade do século XXII, que sofreu bruscas mudanças: as megacorporações dominaram a política, além da economia. Isto, porém, não diminuiu a marginalização da
mulher, que mal tem espaço no mercado de trabalho. Maria, por
exemplo, é a primeira e única mulher a ocupar um cargo de chefia em
seu ambiente de trabalho.
O seu contexto não é bem explorado, porém apresenta o feminismo como uma forma de solucionar os problemas da protagonista.
“Não estou viva e de pé pela minha personalidade volúvel, que não tenho, mas sim por princípios.”
“-- Isso é loucura, ninguém pode tirar a vida de outras pessoas assim! – Maria tinha aumentado o tom de voz, o choque do que tinha ouvida a deixou irritada e nervosa.
--Não podem? Poder é a palavra-chave aqui, sempre foi.”
Projeto Áquila, por
Gabriela Ventura
O conto é uma carta da protagonista para uma jornalista. Isabel
Andrade era uma neurocientista que sonhava em descobrir um modo de
curar o Alzheimer, após perder a mãe para a doença. Isabel sofreu
um acidente de carro, e ficou em coma por seis semanas, antes que sua
morte cerebral fosse por fim declarada.
Porém, a consciência de Isabel Andrade ainda 'sobrevive'.
“Tudo é possível para o futuro, embora ele não possa fazer nada quanto ao passado – tão imponente como eu estava durante os últimos anos de vida da minha mãe.”
“Eu tinha tempo, eu podia esperar. A morte nos traz paciência. A perspectiva de uma vingança perfeita também.”
“Aparentemente raios gama, quasares, anêmonas e tofu não são produções exóticas o suficiente: ele [o universo] também se esforça para provar a circularidade de ideias e, por que não, para forjar ironias no interior de estrelas.”
Eu, incubadora,
por Aline Valek
Fala sobre pós-apocalipse, gravidez, aborto, e a submissão da
mulher em relação ao homem. E a forma como ela apresenta todos
estes problemas, como mostra consequências e soluções é
simplesmente fantástico.
Gira em torno da história de Diana: é
casada, mãe de sete filhos, formada em Engenharia Robótica e sonha
em trabalhar na área, porém, por causa de algumas leis, as Mães
não podem trabalhar até que seu filho mais novo tenha 5 anos. Quando o seu caçula completa o quinto ano de vida, Diana decide seguir seu sonho
quando, acidentalmente, engravida...
“[...] você precisa entender que a sociedade faz o que pode: a pessoa pode ter certeza de que ela vai nascer, mas a partir daí, a sociedade não pode garantir muita coisa. Seria exigir demais, convenhamos.”
“A diferença é que eu sou humana e não consigo simplesmente acatar tudo o que me obrigam a fazer só porque disseram que é assim que tem que ser. Não consigo e não posso. Porque se eu deixar que me digam o que eu posso e não posso fazer com meu próprio corpo e com a minha própria vida, bem, aí eu não vou passar de uma... Coisa”
Meu nome é Karina, por
Ben Hazrael
Karina, a protagonista desta história, é transexual e sua opção sexual nunca foi aceita pelo pai. Além disso, vive literalmente em duas realidades paralelas e é convocada para ser um cobaia de um experimento do Centro de Pesquisas da Mente da PUC; este experimento, pode matá-la.
Karina, a protagonista desta história, é transexual e sua opção sexual nunca foi aceita pelo pai. Além disso, vive literalmente em duas realidades paralelas e é convocada para ser um cobaia de um experimento do Centro de Pesquisas da Mente da PUC; este experimento, pode matá-la.
“mas sabe pai, a pior mancha não foi aquela que ficou na foto, a pior mancha foi aquela que ficou na minha alma.”
Quem sabe um dia, no futuro, por Alex Luna
Compara a situação das mulheres
(oprimidas) com a situação de um robô num mundo pós-hecatombe. E achei fantástico.
"Como todo homem, alguns dias por semana ele precisa sair com amigos, fazer exercícios, se divertir, e eu fico esperando, como boa Esposa. É bem óbvio que eu não preciso de ginástica para satisfazê-lo. Meu corpo não vai melhorar. Somente obedecer. Foi para isso que eu fui criada, não?"
"É possível que você me pergunte por que nós aceitamos tão felizmente a escravidão. Por que raios nós, os quinhentos milhões de robôs atualmente funcionando conectados no planeta Terra, nos submetemos aos desejos de animais feitos de carne e sangue, limpando seus banheiros e lambendo seus órgãos sexuais por horas a fio, até que algum neurônio perdido libere eletricidade e seus corpos estejam cheios de endorfina, e eles se sintam satisfeitos. Nós somos fisicamente mais fortes, e poderíamos manter a civilização funcionando. Não perderíamos o conhecimento adquirido até aqui, e até seríamos capazes de evoluir, levar o mais glorioso produto da humanidade além das estrelas. Afinal, ao contrário deles, nós não morremos."
*trabalhadora
portuária que, recebendo a carga de um navio, a arruma devidamente
no porão ou num compartimento, ou a descarrega de bordo
Queria mais detalhessssss! Legal esse jeito de colocar uma partezinha no final do post, gera curiosidade! Hahaha. Apareça mais, Ca. Eu sempre venho aqui e sempre está ausente. :(
ResponderExcluirBeijo, beijo.
Larissa.
http://www.umtipicoteorema.com.br/
Olá!
ResponderExcluirÉ horrível comprar um livro e vim cheio de erros, não é ? Gostei da temática de feminismo, nós mulheres temos que ler obras assim para parar de ter atitudes que possa ajudar denegrir outras mulheres, parabéns pela resenha !
www.blogoosferando.com.br