quinta-feira, 16 de julho de 2015

Resenha: Universo Descontruído

    
   É uma antologia independente de ficção científica feminista. O que eu mais gostei foi nenhum dos contos impor 'dogma' ao leitor, como por exemplo "você tem que apoiar a legalização do aborto por isso e por aquilo", etc. Temos um livro ótimo, recheado de críticas à sociedade e à política dos dias atuais. 
   Só tenho uma observação: a falta de uma revisão ortográfica e textual em muitos dos contos, que apresentam frases soltas, e erros de português.
    Falarei sobre meus contos favoritos, são eles:

 Um jogo difícil, por Leandro Leite
    O conto gira em torno de Maria, uma estivadora* e chefe do maior armazém da cidade. Sofre muito preconceito e pressão por ser uma mulher em um cargo de grande importância, vítima de assédios sexuais e até mesmo ameaças.
   Maria se esconde sob uma expressão séria e comportamentos “fora do padrão feminino” da sociedade.

   Tem como pano de fundo uma sociedade do século XXII, que sofreu bruscas mudanças: as megacorporações dominaram a política, além da economia. Isto, porém, não diminuiu a marginalização da mulher, que mal tem espaço no mercado de trabalho. Maria, por exemplo, é a primeira e única mulher a ocupar um cargo de chefia em seu ambiente de trabalho.
    O seu contexto não é bem explorado, porém apresenta o feminismo como uma forma de solucionar os problemas da protagonista.

Não estou viva e de pé pela minha personalidade volúvel, que não tenho, mas sim por princípios.”


-- Isso é loucura, ninguém pode tirar a vida de outras pessoas assim! – Maria tinha aumentado o tom de voz, o choque do que tinha ouvida a deixou irritada e nervosa.

--Não podem? Poder é a palavra-chave aqui, sempre foi.”



 Projeto Áquila, por Gabriela Ventura

    O conto é uma carta da protagonista para uma jornalista. Isabel Andrade era uma neurocientista que sonhava em descobrir um modo de curar o Alzheimer, após perder a mãe para a doença. Isabel sofreu um acidente de carro, e ficou em coma por seis semanas, antes que sua morte cerebral fosse por fim declarada.
    Porém, a consciência de Isabel Andrade ainda 'sobrevive'.

Tudo é possível para o futuro, embora ele não possa fazer nada quanto ao passado – tão imponente como eu estava durante os últimos anos de vida da minha mãe.”

Eu tinha tempo, eu podia esperar. A morte nos traz paciência. A perspectiva de uma vingança perfeita também.”

Aparentemente raios gama, quasares, anêmonas e tofu não são produções exóticas o suficiente: ele [o universo] também se esforça para provar a circularidade de ideias e, por que não, para forjar ironias no interior de estrelas.”



Eu, incubadora, por Aline Valek

    Fala sobre pós-apocalipse, gravidez, aborto, e a submissão da mulher em relação ao homem. E a forma como ela apresenta todos estes problemas, como mostra consequências e soluções é simplesmente fantástico. 
   Gira em torno da história de Diana: é casada, mãe de sete filhos, formada em Engenharia Robótica e sonha em trabalhar na área, porém, por causa de algumas leis, as Mães não podem trabalhar até que seu filho mais novo tenha 5 anos. Quando o seu caçula completa o quinto ano de vida, Diana decide seguir seu sonho quando, acidentalmente, engravida...


[...] você precisa entender que a sociedade faz o que pode: a pessoa pode ter certeza de que ela vai nascer, mas a partir daí, a sociedade não pode garantir muita coisa. Seria exigir demais, convenhamos.”
A diferença é que eu sou humana e não consigo simplesmente acatar tudo o que me obrigam a fazer só porque disseram que é assim que tem que ser. Não consigo e não posso. Porque se eu deixar que me digam o que eu posso e não posso fazer com meu próprio corpo e com a minha própria vida, bem, aí eu não vou passar de uma... Coisa”





Meu nome é Karina, por Ben Hazrael
   Karina, a protagonista desta história, é transexual e sua opção sexual nunca foi aceita pelo pai. Além disso, vive literalmente em duas realidades paralelas e é convocada para ser um cobaia de um experimento do Centro de Pesquisas da Mente da PUC; este experimento, pode matá-la.
mas sabe pai, a pior mancha não foi aquela que ficou na foto, a pior mancha foi aquela que ficou na minha alma.”




Quem sabe um dia, no futuro, por Alex Luna

    Compara a situação das mulheres (oprimidas) com a situação de um robô num mundo pós-hecatombe. E achei fantástico.
"Como todo homem, alguns dias por semana ele precisa sair com amigos, fazer exercícios, se divertir, e eu fico esperando, como boa Esposa. É bem óbvio que eu não preciso de ginástica para satisfazê-lo. Meu corpo não vai melhorar. Somente obedecer. Foi para isso que eu fui criada, não?"

"É possível que você me pergunte por que nós aceitamos tão felizmente a escravidão. Por que raios nós, os quinhentos milhões de robôs atualmente funcionando conectados no planeta Terra, nos submetemos aos desejos de animais feitos de carne e sangue, limpando seus banheiros e lambendo seus órgãos sexuais por horas a fio, até que algum neurônio perdido libere eletricidade e seus corpos estejam cheios de endorfina, e eles se sintam satisfeitos. Nós somos fisicamente mais fortes, e poderíamos manter a civilização funcionando. Não perderíamos o conhecimento adquirido até aqui, e até seríamos capazes de evoluir, levar o mais glorioso produto da humanidade além das estrelas. Afinal, ao contrário deles, nós não morremos."

*trabalhadora portuária que, recebendo a carga de um navio, a arruma devidamente no porão ou num compartimento, ou a descarrega de bordo

2 comentários:

  1. Queria mais detalhessssss! Legal esse jeito de colocar uma partezinha no final do post, gera curiosidade! Hahaha. Apareça mais, Ca. Eu sempre venho aqui e sempre está ausente. :(

    Beijo, beijo.
    Larissa.
    http://www.umtipicoteorema.com.br/

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  2. Olá!
    É horrível comprar um livro e vim cheio de erros, não é ? Gostei da temática de feminismo, nós mulheres temos que ler obras assim para parar de ter atitudes que possa ajudar denegrir outras mulheres, parabéns pela resenha !
    www.blogoosferando.com.br

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